sexta-feira, 31 de maio de 2019

Concrecoisa Amor Fragmentado


Vento quente

Vento frio

Óvulo fecundado

Depois...

Tudo suspenso no ar

E só resta

O amor fragmentado

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Concrecoisa Brotação



O tempo brotou no tempo.

Foi o seu primeiro ato.

Depois ocorreram outras brotações.

Dentre elas, verdades e mentiras.

Como o tempo é senhor de tudo, ele trabalha em silêncio.

E no seu agir, a verdade brotou depois de a mentira mostrar a sua face.

Porém, com o tempo agindo, a mentira morreu em si.

O tempo, soberano, mostrou que só ele é capaz de fazer a verdade seguir a sua difícil jornada neste mundo de maldade.

E o tempo imediatamente aprendeu a brotar esperança.

E segue fazendo justiça.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Concrecoisa Hummmmmm


Beguinho de Zezinho era um atacante esperto, raridade no futebol mundial.

Ele conhecia como poucos os atalhos da grande área e a bola, sua amada amante, caia em gozo aos seus pés nos momentos mais difíceis de uma partida.

Ela, a redondinha, estava sempre pedindo para ele chutá-la na rota das redes.

Os goleiros sofriam com Beguinho, pois seus chutes eram precisos e fortes.

De gol em gol, ele foi artilheiro do campeonato de seu estado, nas terras de “Lá não sei aonde”.

Porém, quando ele “comia água,” o dia seguinte era em um terror.

A bola fugia dos seus pés.

Influenciada pelas emissoras de rádio, a torcida sempre pedia a sua cabeça.

Mas Beguinho era matador.

Numa das muitas decisões vitoriosas, ele fez um gol de bicicleta que garantiu o campeonato nacional.

A cidade foi à loucura.

Os radialistas do contra calaram a boca.

Beguinho se vingou com a arte de fazer gol!

E qual o segredo do sucesso de Beguinho?

Ele é um preguiçoso consciente.

E até hoje, bebendo ou não, ele tira uma soneca antes das partidas.

Aquela preguiça domada, pacto com ..., era a fórmula do sucesso.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Concrecoisa Alvoroço



Aquela palavra surgiu por imposição ideológica.

Num primeiro momento, ela foi aclamada por todos.

– Viva a nova palavra!

E o tempo passou veloz.

No bagaço deixado pelo moer dos segundos pela ampulheta, o governo mudou.

Foi por vontade daquela sociedade atiçada e soberana.

E a tal palavra encantada caiu em desuso.

Paralelamente, suas letras começaram a brigar entre si.

E começou uma revolução dentro do dicionário carcomido pelo tempo.

O alvoroço alcançou as ruas.

E o melhor estava para acontecer com o surgimento de uma nova palavra que sacudiu a dor e atiçou o amor.

– Viva a nova palavra!

A revolução das traças nunca parou.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Concrecoisa Machado de Assis



As lágrimas escorreram pela face enrugada daquela velha senhora.

Lágrimas do tempo...

Na ponta do queixo, as gotas abraçadas umas às outras brincavam de cachoeirinha.

O chão empoeirado entrou na brincadeira e engolia cada gotinha como se fosse abafabanca derretida no inverno.

Mas o inverno já tinha passado, como tudo passa.

A seca tinha comido tudo.

Não sobrou verde, só verdade.

Só lágrimas salgadas para contar a história.

Aonde elas foram parar?

Fiquei sem saber.

Perguntei para Machado de Assis. Ele disse que “lágrimas não são argumentos”.

Depois fez silêncio para deixar ouvir o pingar da dor no sertão.