Sem grafite, o muro da urbe empoeira e cria limo, mantendo-se virgem até
o dia da demolição.
Qual muro não queria receber um beijo de batom bem vermelho,
entregando-se ao sabor de uma sacada intelectual de um artista-agitador?
Eis a síntese da Concrecoisa Contra-grafite, tema surgido num almoço com
Anibal Gondim e Miguel Cordeiro, na Ceasinha do Rio Vermelho, aqui em Salvador.
Miguel Cordeiro – grafiteiro vanguardista e desvirginador de muros
soteropolitanos, criador do personagem Faustino – fazia um comentário acalorado
sobre política e dominação dos que querem se perpetuar no poder e isso nos
empolgou.
Anotei num bloquinho o papo e disse para Anibal: isso é contra-grafite e vai
virar concrecoisa. Assim nasceu, coletivamente, a expressão contra-grafite.
Anibal Gondim gostou da sugestão da concrecoisa, que não deixa de ser uma homenagem a
Miguel Cordeiro.
Mais do que uma visão do que é o mundo politicamente correto de hoje,
notadamente o mundinho chamado Salvador, a concrecoisa que se apresenta mostra um,
somente um tentáculo, da trupe perigosa que apaga toda e qualquer crítica que
pinta num muro da Velha São Salvador da Bahia.
São os tempos modernos de controle que antes era ditadura.
Neste tempo de hoje, o muro continua sendo a bandeira contra a dominação
dos totalitaristas de plantão.
Me beije com o seu batom-spray, implora um muro qualquer ao artista-agitador
antes de morrer virgem e silenciado pela trincha com tinta branca à base de cal
dos dominadores.
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