O
Brasil debate a necessidade de autorização, ou não, para escrever uma biografia.
De
um lado tem quem defenda a liberdade total de expressão e nesta perspectiva a
garantia constitucional de escrever uma biografia sem precisar de autorização
do biografado ou de seus herdeiros.
Do
outro lado tem quem defenda a necessidade de autorização e a consequente proibição
de biografia não autorizada. A base legal remete ao ultrapassado Código Civil.
A
pendenga está para ser resolvida no Supremo Tribunal Federal e na Câmara
Federal.
Quem
é contra a biografia não autorizada busca argumento na invasão de privacidade.
Também quer uma parte da grana da vendagem dos livros.
Eu
defendo a liberdade total de escrever qualquer coisa, biografia de quem quer
que seja, tendo, claro, o cuidado de ser fiel aos acontecimentos.
Nada
de biografia chapa branca, endeusando vidas marcadas por imperfeições e que
ajudam o leitor a se tornar uma pessoa melhor.
No
meio da discussão, um grupo de artistas quer proibir a biografia não autorizada.
Roberto
Carlos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, dentre outros artistas,
defendem as biografias autorizadas.
Como
são ídolos de muitas gerações, estes artistas não querem ver passagens de suas
vidas mostrando o quanto são humanos, demasiadamente humanos, e com deslizes,
defeitos, fraquezas, inquietações, dissabores, dentre outros temas que não
desqualificam as suas obras.
Quem
nunca teve um deslize na vida? Pergunto.
Do
exposto, sem delongas, recorro a Nietzsche, em “Crepúsculo dos Ídolos”, para
mostrar como são as vidas humanas.
Os
que estão na discussão entram no ciclo crepuscular.
Nietzsche
percebeu este crepúsculo criticando Sócrates.
Para
quem já lutou pela liberdade de expressão num passado próximo e hoje defende a
censura às biografias não autorizadas, fica a impressão que a luta de ontem e a
de agora são circunstanciais, de acordo com interesses pessoais, e não por uma
causa maior, uma causa coletiva, uma causa de todos e voltada para o futuro.
Seja
o que seja decidido pela Justiça e pelos parlamentares, uma faceta do crepúsculo
dos ídolos em questão já está presente na vida destas pessoas públicas.
“Nossos
ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não”, já cantava
Belchior em “Como nossos pais”.
Nietzsche
tinha e continua tendo razão.
Fui
convencido, me desculpe Jorge Mautner (apoiador do grupo citado), que me autorizou
escrever a sua biografia, já lançada, em 2004.
Não
sei o que está acontecendo com as cabeças pensantes deste país.
Vale
dizer que Jorge Mautner nunca censurou uma linha do que eu escrevi sobre ele.
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