O poeta Dumé vivia feliz no anonimato.
Seus poemas eram dos mais belos.
Lírica das líricas modernas em explosão de sentimento.
Do mundo material, a rua era o seu palácio, a sua morada.
Um dia perguntaram quantos livros ele tinha publicado.
Ele disse que nenhum e falou ainda que guardava os poemas na cabeça,
todos decorados.
Outra pessoa perguntou, certa feita, se algum de seus poemas chegou a
ser declamado por outra pessoa ou se já tinha sido estudado ou virado canção.
Ele disse que não e que a alegria era o anonimato, não fazendo questão
de notoriedade, pois era poeta, nada mais do que poeta.
O tempo passou...
Certa dia, viu o seu nome estampado num jornal de grande circulação
nacional.
Achou engraçado.
A manchete era “Poeta Dumé é legitimado”.
Depois de ler quase cem vezes a manchete, se embolou numa crise de riso
no chão sujo de sua casa pública: um viaduto.
Desde então, Dumé considerou qualquer tipo de legitimação uma piada.
Descontente, foi morar sozinho, imensamente feliz, numa gruta em Igatu.
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