sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Concrecoisa Honra



– Pode comprar, eu garanto. A casa não tem problema de documentação. Qualquer coisa, devolvo a sua grana.

– Tunugo, não é melhor deixar no papel, tudo certinho e no preto e no branco?

– Diogre, você sabe que eu não assino nada e negócio comigo é na palavra. Cê né homem não?

– Não me venha com esse papo mole de ser homem, Cê sabe que sou espada! Aqui é negócio. Sabe lá se um dia a sua palavra bufe. Aconteceu certa feita com o velho Nicolau, lembra? Ele sofre até hoje.

– Rapaz, vai ou não vai fechar o negócio?

– Vou confiar na sua palavra. Venha, aperte cinco, com a mão direita.

Assim o negócio foi fechado entre Tunugo e Diogre.

Um mês depois, a casa entrou na dívida pública porque o antigo proprietário não pagou os impostos.

Aflito com a situação, Tunugo procurou Diogre para rever o dinheiro da negociação.

– Viu Diogre, a casa tinha problema na documentação. Quero o meu dinheiro de volta.

– Que dinheiro?

– O que eu paguei. Você deu a palavra que não ia ter problema.

– Né mais comigo não. Veja com o antigo dono.

– Você deu a palavra, lembra?

– Lembro não. Esse negócio de palavra já era.

– Bem que meu pai dizia que “palavra é honra de poucos”.

– Pois é! Você devia usar na prática o que seu pai dizia.

No dia seguinte, Tunugo estava foragido e Diogre com a boca cheia de formiga.

Diogre não sabia que na lápide do pai de Tunugo estava escrito “palavra sem honra se resolve na bala”.  

Um comentário:

  1. Palavra é pra poucos, mesmo! Meu pai sempre dizia isso. Massa, Rasec. Você bomba!

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