Gosto
de brincar com as palavras portuguesas, palavras da língua materna inseparável.
Tem
horas que vejo longas narrativas numa única palavra, vendo-a como quase uma totalidade
do desejo do autor de dizer tudo. Mas o autor morreu, diz Roland Barthes.
E
a palavra, ela morre?
Sim
e não.
Sim,
quando ela é esquecida pela língua mutante e antropofágica.
Não,
quando percebemos que tudo está na raiz da língua e a raiz não morre.
Quem
morre é a folha, que cai com a gravidade e voa ao sabor do vento. A palavra é,
um pouco, folha.
A
palavra aguardaria, primeira pessoa, também terceira, do futuro do pretérito do
verbo aguarda, é uma dessas palavras de múltiplas narrativas em si.
Nela,
podemos ver que:
a
guarda ria
do
aguar
no
ar
que
a água
daria
A
construção pela fragmentação parece desconexa. A desconexão fica apenas na
aparência, pois toda guarda ria do aguar, no ar, que a água daria. Ou seja, a
guarda pensou, riu, mas não aconteceu a chuvarada.
Ainda
bem que tenho um guarda-chuva na mala do carro.
Aguardo,
sem rir, com ele, já bem desgastado, qualquer chuvinha.
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