sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Concrecoisa Aguardaria



Gosto de brincar com as palavras portuguesas, palavras da língua materna inseparável.

Tem horas que vejo longas narrativas numa única palavra, vendo-a como quase uma totalidade do desejo do autor de dizer tudo. Mas o autor morreu, diz Roland Barthes.

E a palavra, ela morre?

Sim e não.

Sim, quando ela é esquecida pela língua mutante e antropofágica.

Não, quando percebemos que tudo está na raiz da língua e a raiz não morre.

Quem morre é a folha, que cai com a gravidade e voa ao sabor do vento. A palavra é, um pouco, folha.

A palavra aguardaria, primeira pessoa, também terceira, do futuro do pretérito do verbo aguarda, é uma dessas palavras de múltiplas narrativas em si.

Nela, podemos ver que:



a guarda ria

do aguar

no ar

que a água

daria



A construção pela fragmentação parece desconexa. A desconexão fica apenas na aparência, pois toda guarda ria do aguar, no ar, que a água daria. Ou seja, a guarda pensou, riu, mas não aconteceu a chuvarada.

Ainda bem que tenho um guarda-chuva na mala do carro.

Aguardo, sem rir, com ele, já bem desgastado, qualquer chuvinha.  

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