Estava no buzu.
Lá fora, o sol de lascar o couro de qualquer calango derretia o asfalto.
O suor escorria pelo cangote de todos.
Além do calor, a barulheira infernal convidava para descer no primeiro
ponto.
Resisti.
A passagem estava cara demais para subir num ponto e descer no outro.
O salário mínimo não permite tal luxo!
Suportei em meditação.
Esqueci a situação quando me liguei num papo entre duas senhoras.
Uma contou para a outra que sonhou que estava passeando pela lua e era a
primeira vez que ocorria algo desta natureza em sua vida já bem vivida.
A outra entendeu que ela estava passeando pela rua, dando vazão ao papo.
Depois de uns cinco pontos, a senhora que trocou lua por rua perguntou o
nome da rua daquele sonho.
A sonhadora disse que conhecia apenas por lua, nada mais.
A ouvinte quase surda e agoniada e sem entender mais nada disse que vivera
na Rua da Lua e tinha um velho ex-namorado que ainda morava lá.
A sonhadora achou que era gozação demais e partiu para dentro da outra,
conhecida ali mesmo e há poucos minutos atrás.
Foi um arerê só e de arrepiar qualquer ser vivente.
O pega pra capar com um separa-separa agitou o buzu-sauna que circulava
pelas ruas engarrafadas da velha Cidade da Bahia.
Pena que a confusão aconteceu no instante em que eu ia descer.
Até hoje fico a me perguntar se o problema foi a lua ou a rua.
Levei o assunto para um debate filosófico.
O mais sábio dos sábios assegurou que o problema foi causado pelo sol.
E num eclipse, a polêmica sucumbiu em silêncio e frio intelectual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário