sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Concrecoisa Tempodeus


Certo dia, o tempo quis saber quem ele era.

Perguntou para a luz, irradiada d’uma estrela próxima.

Quando ia responder, uma matéria desconhecida que vagava pelo espaço ficou na frente da estrela e fez a noite chegar.

O tempo, então, correu para Terra, planeta com vida, e lançou o mesmo questionamento para o mar.

O mar, sem saber responder, disse que o ar tinha a resposta.

E lá foi o tempo, instantaneamente, perguntar para o ar.

O ar, também sem saber responder, preferiu virar vento, em fuga.

O tempo, inquieto, viu no fogo do vulcão a possibilidade da resposta.

O fogo, sem saber responder, apagou-se em si.

Restou ao tempo perguntar para o animal racional que estava destruindo a Terra.

Se achando dono da verdade e de tudo, o homem levantou a voz, em mais um ato de prepotência.

Antes de concluir a resposta, já velho, o homem morreu.

Foi aí que o tempo viu que ele era Deus e sorriu com pena do homem.

2 comentários:

  1. Muito bom, Rasec. Privilégio ter o prazer de ler um texto assim, tão profundo, delicado e verdadeiro. Acalma a alma. Parabéns. Você é fera!
    Ana

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  2. Fiquei encantada, Rasec. Seu texto maravilhoso me remeteu a "Resposta ao Tempo" (Aldir Blanc) que diz que o tempo "...ele sabe passar e eu não sei".Temos muito que aprender com o tempo, não? Parabéns.

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