sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Concrecoisa Kamikaze


Tempo de guerra. Ano de 1945.
O Japão, no front, é lambido pelo Oceano Pacífico que arde em chamas.
O kamikaze na sua máquina de voar faz o primeiro-único-último voo.
No horizonte distante, tremula a bandeira do sol nascente numa manhã cinza.
Alvorada eterna no Japão.
O alvo à frente.
No voo de despedida.
O herói se explode com o inimigo.
Nada de flores. Nada de funeral. Só a dor.
Sangra o coração estilhaçado de quem ficou para contar a história.
A guerra que não é do kamikaze termina.
Hoje, o kamikaze vivo aparece na pele do poeta que teima em explodir o mundo com flores do jardim da paz.
Onde está você kamikaze, onde está você?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Concrecoisa Caymmi



Dorival Caymmi é pilar da Música Popular Brasileira (MPB).
O som do seu nome é o som da construção; um som do novo jeito de cantar as belezas da Bahia e com um olhar na tradição.
Caymmi é o som da identidade baiana. É o mar batendo na praia e onde o pescador ganha o pão.
Caymmi é o singelo desvirginar sonoro do que é regional. Ele faz o hímen cair, num cai hímen do passado para o futuro e com o passado reinventado pelo violão muito bem tocado. É a vanguarda musical brasileira, em síntese.
A ideia da Concrecoisa Caymmi surgiu em Seabra, cidade do interior da Bahia, durante o Simpósio Internacional de Baianidade.
Fui falar sobre trio elétrico, frevo baiano e Axé Music.
No papo com os amigos Carlos Barros, Marielson Carvalho e Armando Castro, todos palestrantes e admiradores da obra de Caymmi, esta Concrecoisa abençoou minha cuca. Era o final da manhã de sexta-feira, dia 14 de outubro. Meu parceiro musical Narlan Matos gostou da proposta.
Hoje, Caymmi surge num fundo azul das cores do mar e do céu. Peço licença aos Orixás e agradeço pela inspiração, pois este azul é o brilho de Oxóssi e de Ogum nas águas de Yemanjá.
Aqui, ao falar de Caymmi, lembro da minha infância e de meu pai João Mac-Allister colocando um disco deste mestre do cancioneiro popular numa radiola valvulada.
Por desvirginar e romper sem temer, Caymmi ganhou a dimensão da flecha de Oxóssi cortando o espaço brasileiro.
É uma flecha que se multiplica em notas musicais e desvirgina com o samba de minha terra aquele que é ruim da cabeça por não gostar de samba.
Obrigado mestre, obrigado por tudo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Concrecoisa Deus


Em cores primárias, a Concrecoisa Deus é o começo de tudo.
O Criador externa a sua força, o seu amor, ao nos mostrar o caminho da luz.
Como luz é cor, essa cor total que nos rodeia é a presença de Deus nas coisas e, aqui, na Concrecoisa.
Também nas não-coisas, como no buraco negro, existe o seu esplendor, a sua grandiosidade enigmática.
Nas orações, tentamos nos aproximar de Deus.
Ele sorri de nós ao achar estranha essa busca humana pelo poder.
Ele sorri mais ainda porque o poder é uma ilusão.
E por ser ilusão, o poder passa.
E a vida passa, chega ao fim, em todos, e num determinado dia.
Em Deus, a vida não se esgota.
Deus é a totalidade da vida que a Concrecoisa reverência.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Concrecoisa Crucificarros



A cruz transita pelas ruas.
Cada pessoa carrega a sua.
O carro é a cruz da modernidade nas grandes cidades.
Ele crucifixa o Salvador.
E Salvador crucifixa os seus filhos.
O volante, então, faz sangrar.
A liberdade está engessada nas descargas dos carros.
Gás, gás, gás...
A máquina para.
A vida passa pela janela fechada.
O vidro veda a vida. Medo!
Crucificarros sejam os vossos bens em velô.
Amém, máquina de ir e vir!