sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Concrecoisa Aguardaria



Gosto de brincar com as palavras portuguesas, palavras da língua materna inseparável.

Tem horas que vejo longas narrativas numa única palavra, vendo-a como quase uma totalidade do desejo do autor de dizer tudo. Mas o autor morreu, diz Roland Barthes.

E a palavra, ela morre?

Sim e não.

Sim, quando ela é esquecida pela língua mutante e antropofágica.

Não, quando percebemos que tudo está na raiz da língua e a raiz não morre.

Quem morre é a folha, que cai com a gravidade e voa ao sabor do vento. A palavra é, um pouco, folha.

A palavra aguardaria, primeira pessoa, também terceira, do futuro do pretérito do verbo aguarda, é uma dessas palavras de múltiplas narrativas em si.

Nela, podemos ver que:



a guarda ria

do aguar

no ar

que a água

daria



A construção pela fragmentação parece desconexa. A desconexão fica apenas na aparência, pois toda guarda ria do aguar, no ar, que a água daria. Ou seja, a guarda pensou, riu, mas não aconteceu a chuvarada.

Ainda bem que tenho um guarda-chuva na mala do carro.

Aguardo, sem rir, com ele, já bem desgastado, qualquer chuvinha.  

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Concrecoisa Janela



A vida real é um filme que passa pela janela, onde dois mundos se misturam: o de dentro e o de fora.
Do lado de fora reina a luz do sol e do lado de dentro reside a luz da privacidade.
Mais do que a própria funcionalidade para a construção civil, uma janela traspassa sua essência na esperança da fresta que nunca se fecha.
Sempre resta uma fresta para deixar o sonho fluir na janela que cada um é.
Digo, assim, que a Concrecoisa Janela é uma possibilidade de reinvenção que está, primeiramente, dentro de cada pessoa, pois a pessoa tem a vontade, ou não, de abrir o ferrolho de sua janela.
A possibilidade de reinvenção também vem pelo lado de fora da janela. É uma reinvenção que vem pela fresta do outro que chega para somar.

Fechada ou aberta
resta uma
resta uma
resta uma fresta
para não deixar
a luz da esperança
morrer

Termino relembrando que todo mundo é janela e, por ser janela, é fresta.
Ia esquecendo, vou abrir a janela do meu apartamento para a luz da manhã me desejar bom dia!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Concrecoisa Concrescada



Atire a primeira pedra aquele que nunca subiu ou desceu uma escada, cineticamente falando.

E a escada (além da coisa física em si e que é razão das formas geométricas, como mostra essa foto em alto contraste, em preto e branco, que dá acesso ao Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador) simboliza a ascensão ou inflexão social, quando alguém sobe ou desce degraus.

Acontece, porém, na maioria dos casos, que uma pessoa ao subir degraus da vida não se atenta para a coisa mais preciosa do humanismo, que, no meu modesto modo de ver a vida, significa manter os pés no chão.

Esse manter os pés no chão, na minha cartilha ética, quer dizer manter a humildade e o respeito para com os que ficaram no mesmo degrau, o que não é demérito. É a maior das virtudes aplicar no dia a dia os princípios éticos.

Pensando assim, se um dia acontecer uma descida, uma inflexão, o espírito de quem quer que seja estará confortado, pois os que foram respeitados retribuirão com a mesma conduta.

Antes de terminar, lembro que o nome Concrescada foi içado pelo amigo e parceiro musical Luiz Caldas, que comentou esta foto quando fiz a postagem no meu Facebook.

Não poderia de ser de outra forma o impulso de transformar a foto em concrecoisa. Por isso, a Concrescada é a razão das formas e, sobretudo, da vida que vive ciclicamente.

Dedico a Concrescada ao amigo poeta maior Narlan Matos, que mora nos EUA e precisa ser mais reconhecido no Brasil, e ao artista plástico Luiz Pereira, senhor do simbolismo visual dos objetos transformados em pura arte.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Concrecoisa Fingual



Fingual é o fim comum que iguala as pessoas.

O fingual é um processo que leva tudo ao fim igual.

E não adianta tanta pompa dos que desdenham do fingual.

Pois de nada vale a riqueza material e tão pouco a soberba quando o fingual se materializa.

Se subir, descerá. Se não subir, descido está.

No frigir dos ovos, quando todos voltam para a terra para serem comidos pelos vermes, o fingual apodera-se da situação.

Por outro ângulo, em termos práticos, o fingual acaba sendo um bálsamo para os desafortunados.

Quem luta contra o fingual luta contra a força da natureza e sempre acabará perdendo.

- Todo fim de ano é também um fingual, revelou o amigo Anibal Gondim, em conversa por telefone, na tarde de quarta-feira, dia 2 de janeiro de 2013, ao apreciar em primeira mão a Concrecoisa Fingual.

O fingual também encurta as distâncias da pirâmide social e o vetor determinante deste encurtamento é a consciência de cada um.

Sem mais, pois, repito, o fingual aqui é o ponto final. Sendo assim, deixo-o em destaque para nunca esquecer dele (.).