sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Concrecoisa Forma que Transforma


Fósforo riscado.  

Agora o quarto estava iluminado pelo lampião a querosene.

Felissa não se importou, continuou rolando na cama.

Ela sabia que mais luz significava mais forma transformada.

Esperta, amante por conta de um desejo indomável, girou o corpo para um melhor ângulo.

O fotógrafo solitário tentou registrar a cena com a velha máquina analógica Praktica MTL5.

O giro do tempo se mostrava sem retoques.

A carne estava transformada, deformada, reformada e informava que aquele corpo já não era o mesmo corpinho perfeito que atraia os olhares desejosos.

Felissa agiu rápido.

Apagou o lampião e voltou a amar no escurinho.

A fantasia era tudo, desde sempre.

Sem clarão, a imaginação ainda fazia do seu corpo um eterno jardim do prazer.

E o fotógrafo solitário nunca mais acendeu o lampião a querosene para eternizar com a velha máquina fotográfica as suas derradeiras noites de amor.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Concrecoisa Autônomo


Dilo esperou por Mirto.

Nada aconteceu.

Mirto esperou por Delton.

Nada aconteceu.

Delton esperou por Pelser.

Nada aconteceu.

Pelser esperou por Zilner.

Nada aconteceu.

Zilner esperou por Katiza.

Nada aconteceu.

Katiza esperou por Tringa.

Nada aconteceu.

Tringa não esperou por ninguém.

E o que era para acontecer aconteceu.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Concrecoisa Face do Poder


O poder para um tolo é veneno.

E esse veneno torna-o monstro.

Com certeza, o pior dos piores monstros.

Isso porque ele se veste com pele de cordeiro.

E na pele de cordeiro ele vira senhor das maiores maldades.

Porque o encantamento com o poder, em síntese, é um veneno que torna o tolo um monstro.

Cuidado!

Cuidado!

Cuidado!

Cuidado!

Cuidado!

Cuidado!

Cuidado rapaz!

O monstro pode estar por perto.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Concrecoisa Cantinho

Quando o dia levantou

Em noite adormecida

O cantinho fez-se sombra

Sem perder seu brilho encantado

Porque a comunhão já estava firmada

Luz e sombra, sombra e luz

Desde sempre, desde sempre...