Fósforo riscado.
Agora o quarto estava iluminado pelo lampião a querosene.
Felissa não se importou, continuou rolando na cama.
Ela sabia que mais luz significava mais forma transformada.
Esperta, amante por conta de um desejo indomável, girou o corpo para um
melhor ângulo.
O fotógrafo solitário tentou registrar a cena com a velha máquina
analógica Praktica MTL5.
O giro do tempo se mostrava sem retoques.
A carne estava transformada, deformada, reformada e informava que aquele
corpo já não era o mesmo corpinho perfeito que atraia os olhares desejosos.
Felissa agiu rápido.
Apagou o lampião e voltou a amar no escurinho.
A fantasia era tudo, desde sempre.
Sem clarão, a imaginação ainda fazia do seu corpo um eterno jardim do
prazer.
E o fotógrafo solitário nunca mais acendeu o lampião a querosene para
eternizar com a velha máquina fotográfica as suas derradeiras noites de amor.