sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Concrecoisa Medo do medo


Ele era corajoso, mais que demais.

Não temia ninguém, mesmo estando desarmado.

Assim, com tanta coragem, venceu todas as batalhas.

Na cidade grande, onde foi morar ao completar 18 anos, virou herói.

Por muito tempo, por conta dos seus feitos, viu estampar a sua imagem na primeira página dos principais jornais impressos.

A bandidagem tremia ao ouvir o seu nome.

Por conta da evolução tecnológica, virou celebridade no mundo digital e nos mais influentes portais noticiosos.

Ele era o cara, não um certo cara que virou bandido e acabou preso por causa da corrupção.

Quando completou 78 anos, confessou para o seu filho caçula um segredo que estava guardado a sete chaves.

E ele disse:

– Filho, meu único medo é ter medo do medo.

O filho deu a entender que não entendeu nada.

E o pai continuou:

– Você não precisava entender as minhas palavras, pois o medo é um mistério que vive no labirinto da mente de cada um.

O filho respondeu:

– Pai, eu entendi. Eu sou você desde o dia em que nasci!

E as lágrimas selaram aquele amor único entre pai e filho.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Concrecoisa Lúdico-lúcido


A alegria da infância permanecia.

E os anos chegaram...

Aquela alegria não findava.

E as rugas multiplicavam.

E mais alegria jorrava...

...naquela fonte de cabelos brancos.

E tudo era assistido pelo tempo lúcido.

Que era lúdico.

Desde sempre.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Concrecoisa Pé no chão


O chão frio sofria com a queda brusca da temperatura.

A casa onde morava estava longe, muito longe.

O inverno chegou castigando.

E a chuva cuspia lanças d'água na sua pele ressecada.

Ele sabia que tinha que continuar a caminhada.

Faltando mais da metade do caminho para chegar ao destino, sentiu o solado do velho sapato, do pé esquerdo, descolar.

E por lá ficou, numa curva da estrada molhada.

A caminhada longa parecia não ter fim.

Não desistiu.

Quando chegou em sua casinha de madeira, abraçou a cama como se fosse o paraíso.

No dia seguinte, com o sol chamando para sorrir, teve a certeza que viver é sentir o beijo da sola do pé no chão.

Desde então, passou a andar descalço.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Concrecoisa Sorte


Aquele dia estava cinza e chovia bastante.

Um estampido assustou-a.

Ela se abaixou rapidamente.

A bala passou perto.

Foi mais um susto!

Com muito sacrifício, conseguiu chegar em casa para abraçar os filhos e recarregar as baterias para a batalha do dia seguinte.

As dificuldade aumentavam.

Porém, ela não se entregava.

Cada dia vencido era uma subida ao pódio do sucesso interior.

Os anos passaram.

Os filhos cresceram e voaram para a vida.

Ela continuava a sua rotina como uma fortaleza.

Sua palavra mágica era perseverança.

E num dia cinza e chuvoso, resolveu arriscar na loteria.

Acertou com uma aposta mínima.

Sozinha, rindo sem esquecer da perseverança, entendeu que a sorte era ela e não os números sorteados.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019


Aquela pessoa vivia no limite extremo entre o certo e o errado.

No seu entendimento, o certo poderia ser algo errado e o errado poderia ser algo certo.

Entre erros e acertos, o tempo vivido ganhava uma nova página nas lembranças que poderiam ser contadas.

Sempre que acertava alguma coisa, essa pessoa achava que errava.

O oposto era também uma realidade, pois a sua forma de encarar a vida não tinha referência.

Um certo dia, um conhecido quis interferir na sua forma de viver.

E começou a falar o que era para fazer.

Aceitou a sugestão.

E fez tudo ao contrário.

O seu sim, concordo, foi um não, rejeito.

Assim, viveu feliz no seu mundo particular e que era um abismo para os outros.