sexta-feira, 29 de maio de 2020

Concrecoisa Sozinho


Tudo tem um porém

E esse porém gosta de brincar com a imaginação

Foi assim que a borboleta dos sonhos do poeta José de Jesus Barreto brincou de ziguezaguear com o passar do dia

Ela gosta de driblar as folhas secas que beijam o chão ao sabor do vento

E numa dessas brincadeiras assistidas por Barretinho

Lá num certo além

Uma borboleta pensou que era Garrincha

Aquele que se divertia entortando os adversários e de quebra escondia a bola num lugar que só Pelé tem o mapa

Dizem que esse lugar fica num outro além, muito além das quatro linhas do campo de futebol

O escritor e jornalista Nelson Rodrigues mostrou nas entrelinhas de suas crônicas futebolísticas o caminho para chegar nesse além

E entre um drible e outro

Cada um com o seu modo de viver

Alguém esqueceu de dizer

Que entre o porém e o além

Tudo é sozinho

E alguém é ninguém no além

A bola está lá...

É gol!

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Concrecoisa Pecados em pedaços


Os pecados

São pés descalços

Os pés descalços

São pedaços dos caminhos

Os caminhos 

São laços desatados

Os laços desatados

São novos caminhos dos pecados

Os pecados

São gritos silenciados pelas leis de aço

As leis de aço

São sussurros amordaçados

Os amordaçados

São todos

Ali tem sapato!

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Concrecoisa Avidavaleapena


Ninguém mais circulava mais pelas ruas.

Estava tudo travado.


Lockdown, lockdown, lockdown, lockdown...


Todos ficaram reféns das novas medidas.


Ditadura das leis, da ordem, do poder.


Choros e risos foram ouvidos nos apartamentos grandes e minúsculos.


E também nos barracos que são piores do que as velhas cavernas do período paleolítico.

Porém, os passos da vida ainda ecoam.


E nada de aglomeração.


Aquela transa deixou de rolar.


Tudo para evitar o monstro invisível, Seu Coronga.


Todos querem viver mais e mais.


"A vida vale a pena!", poetou Coroguinha disfarçado de anarquista.


"Seu Coronga não morreu, Seu Coronga sou eu", retrucou bem alto o dono da lei.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Concrecoisa O fio


Ele ficou ali, perdido, adormecido, esquecido…

Encontrei-o sem querer, num descuido do olhar.

Estava numa mesa com tampo de vidro, onde trabalho os meus pensamentos, as minhas ideias.

Ele ficou entre o vidro e a base de apoio.

Não sei como chegou ali.

Só sei que ele estava lá.

E a minha cabeça, sem ele, já não sentia a falta da sua presença.

Outros irmãos ajudavam a superar aquela perda.

Assim os fios de cabelo se vão.

Cada um procurando um novo cantinho para passar a viver.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Concrecoisa Moraes Moreira


A morte do compositor, cantor, cordelista e escritor Moraes Moreira, no dia 13 de abril, aos 72 anos, enlutou a Música Popular Brasileira (MPB).

Ele era o principal nome do grupo Novos Baianos, que fez  história na cena musical do final dos anos de 1960 e começo dos 70.

Eram tempos com tensões políticas e com mais arte e menos grana.

Moraes brilhou também em carreira solo e viu o Brasil descer a ladeira graças ao olhar de João Gilberto, seu mestre.

João também fez Moraes evoluir no tocar do violão.

Ensinou-lhe sem precisar dar aula, só dedilhando clássicos da bossa nova, encantando, brasileirando, agregando gerações.

Autor da canção “Acabou Chorare” em parceria com Luiz Galvão, obra que deu nome ao disco emblemático de 1972 dos Novos Baianos, Moraes conseguiu transitar pela música trieletrizada do Trio Elétrico Dodô & Osmar.

Nesse trânsito sem preconceito, deu molejo ao frevo pernambucano com o dendê da Bahia.

De Ituaçu, interior baiano, ele saiu com o violão colado ao peito para conquistar o Brasil com música.

Agora ele deixa esta dimensão para conquistar a eternidade!