O amigo poeta, escritor e jornalista José de Jesus Barreto, torcedor do
Bahia graças a Deus e aos Orixás, me mandou por e-mail mais uma de suas
narrativas sobre baianidade: “O trem de Caculé”.
Em seguida, acendeu o pavio da possibilidade criativa: Caculé rende
concrecoisa?
Fiquei pensado e, como um raio, concebi a concrecoisa que lhe presta
homenagem.
A narrativa tem as seguintes passagens:
– De onde vem, pra onde vai o trem de Caculé?
Vai pra Monte Azul! Respondia o maquinista suarento acionando o apito do
trem e acenando pela janela da locomotiva ‘Maria Fumaça’, nos delírios da
infância no Subúrbio Ferroviário, os encantados comboios mistos de carga e
passageiros passando a cada cinco minutos, bem próximos, arrebentando os
ouvidos.
Caculé, Caculé... onde fica Caculé?
Gostávamos mesmo era da sonoridade da palavra, o acento forte na última
sílaba ecoando nos meus ouvidos feito o apito do trem: ‘Uééé!!!’
Caculé quer dizer o quê?
O trem de ferro se foi. Maria Fumaça sumiu com o advento do diesel, das
locomotivas eletrizadas, os comboios rarearam até se perder de vista na
longitude do tempo.
...
Cadê o trem de ferro passante, aquele trem de Caculé?
Nunca me saiu da memória, muito mais pelo nome sonoro do que pelo
comboio em si igual a tantos outros que passavam, tantas janelinhas ligeiras,
sempre saindo ou chegando na Estação da Calçada.
Descoberta tardia: Caculé é uma cidade pequena do sudoeste baiano, Serra
Geral, naco da Chapada Diamantina, quase Minas. Terra do cantor Anísio Silva, tempos de boleros-sofrência dos bons, e da
estação da Via Férrea Federal da Leste Brasileira, parada obrigatória.
...
Aprendi depois, com gosto, que Caculé era o sobrenome banto de um
escravizado fugido batizado Manoel. Chegou a organizar um quilombo no sítio de
águas doces. A lagoa de Manoel Caculé deu origem ao povoado de Caculé.
...
Digo eu, César Rasec, agora: Caculééééééééééééééééé... Apita o trem na memória de Zédejesusbarreto!