sexta-feira, 27 de maio de 2016

Concrecoisa Cadeiras


Luzia sentou e depois foi embora.

Bartira sentou, rezou e depois foi embora.

Maria sentou, rezou, agradeceu e depois foi embora.

Lucas sentou e depois foi embora.

Bento sentou, rezou e depois foi embora.

João sentou, rezou, agradeceu e depois foi embora.

Um dia, as cadeiras ficaram sem ninguém.

O vazio sentou.

O vazio rezou.

O vazio agradeceu.

O vazio ficou.

Angustiada, a cadeira perguntou.

– Cadê você! Cadê você que vinha assentar a fé?

O vazio respondeu por todos, quando o vento soprou a poeira.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Concrecoisa Bundaval


Eles estavam ali, na esquina, reunidos, curtindo a vida.

De repente, um estrondo.

– Bum!

Ninguém ligou.

Depois de alguns segundos, outro estrondo, agora dois.

– Bum, bum!

Ninguém ligou.

Não demorou muito, mais três estrondos.

– Bum, bum, bum!

Ninguém ligou.

E os estrondos foram aumentando, aumentando...

E o bum virou bumbum, num vendaval de bundas.

Até que começaram entender a situação.

Primeiro um, depois dois, depois....

Todos eles.

Quando deram por si, era tarde demais.

E o bum em abundância já tinha virado bundaval.

Nesse instante, um maluco que estava passando na esquina, gritou, tirando sarro.

– Quem tem um bum, não tem nenhum. Mas quem tem bumbum, tem medo.

Foi quando a batucada começou.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Concrecoisa Espanto

Bateu saudade.

Saudade de criança.

Um espanto.

Um desencontro.

Um encontro.

Vários abandonos.

Tudo ali.

Dentro de mim.

Dentro de ti.

Dentro de nós.

Dentro de onde não é nada!

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Concrecoisa Letra I


Quando houve a revolução no alfabeto.

A letra “i” ficou com a missão de equilibrar tudo.

E o seu ponto no ar começou a flutuar.

Na sua elegância, viu a letra “o” engordar.

E para não ficar sozinha no mundo.

De seu traço vertical, deu luz à sinuosidade do “s”.

E nunca mais o “i” se perdeu em si.

É “issoi”!