sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Concrecoisa Segredo do outro lado



A chave vivia triste.

Certo dia, encontrou a fechadura d’uma porta velha.

E aceitou o convite para entrar naquele segredo.

Porém, continuou triste.

Do outro lado só tinha escuridão.

E foi embora...

Outra fechadura apareceu no seu caminho.

E abriu essa outra porta.

Mais uma vez, a tristeza não dissipou.

E seguiu nessa jornada de abrir e fechar portas.

Depois de muito tempo, já bem desgastada, a chave entendeu que a felicidade não estava no que havia do outro lado da fechadura, do outro lado da porta.

A felicidade estava no viver o estado de chave e não no abrir as cavernas dos dissabores que podem existir do outro lado de uma porta.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Concrecoisa Cochicho



A pedra mudou o destino da humanidade.

Foi instrumento de trabalho, pavimentou estradas e edificou cidades.

Com o tempo, erodiu.

A erosão virou o seu pranto.

Por causa desse pranto, as pedras no caminho passaram a cochichar todos os dias.

E foi vivendo...

E nesse viver, tem quem diga que o mármore está sentindo frio.

Tem granito que reclama do calor.

E tem as pedras mágicas, que são aquelas que viraram gente.

Por outro lado, tem gente que virou pedra.

E quem foi que virou pedra?

Não posso dizer, pois viver a coisa da matéria é castigo diante da grandeza d’alma.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Concrecoisa Paixão abissal



O amor

Fruto da paixão

Fez a luz

Adormecer

Na zona abissal

Que separa

O desejo

De ter

Para sempre

A metade

De mim

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Concrecoisa Verboroso



Ele falava muito...

Pelos olhos.

Pelos ouvidos.

Pelos poros.

Pelos gestos.

E também no agir dos outros.

Sua boca era um vulcão e a lava o discurso em si.

Palavras, palavras, palavras...

Seu discurso mistificava as massas.

Mas ele morreu.

Chegou o silêncio.

Agora o vento joga poeira em sua lápide.

E a frase “Aqui jaz um loquaz” vai aos poucos desaparecendo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Concrecoisa Índio Astronauta



O espaço infinito era um eterno convite para o Índio Astronauta viajar pelo desconhecido.

O mar de lágrimas chamava-o para pescar corações de paixões errantes.

Entre o espaço infinito e o mar de lágrimas, o Índio Astronauta tocava na sua flauta mágica a música da liberdade.

E bebia vinho tinto na taça de Dionísio.

Certo dia, cansado da rotina, resolveu adormecer nos braços de Morfeu.

E se entregou...

Desde então, a realidade vestiu o manto da fantasia.

E o Índio Astronauta, em metamorfose, aproveitou para sempre o sonho da esperança.