sexta-feira, 29 de março de 2013

Concrecoisa Chave



As pessoas são chaves e a fechadura é o destino.

O mundo está do outro lado da porta.

Para abrir a porta do devir é preciso coragem.

Ao ficar no mesmo estágio, sem uma ação de abrir, o medo prevalece.

Mas a porta com a fechadura está aí, diante de cada chave que cada um é.

Tem situações em que a chave não cabe na fechadura, mesmo a pessoa tendo coragem. E tudo não se move.

Tem gente que tem uma chave mestra dentro de si e abre todas as portas, inclusive as portas onde do outro lado existe o indesejado.

Entre abrir e não abrir as portas da vida, o mundo continua o mesmo e sempre à espera das chaves que são as vidas.

O matuto Zé Boquim, certa feita, entre um papo e outro, me disse que achou a chave do destino no mesmo tonel de Diógenes de Sinope. 

E ele me confessou, sem pedir segredo:

- Poeta das concrecoisas, sabe o que fiz? Fui viver a vida sem me preocupar com os problemas que assolam o mundo. As pessoas ao invés de abrirem portas ficam resolvendo problemas, pagando contas e correndo atrás de grana. Eu não tenho pressa, pois já tenho a felicidade dentro de mim. Quer um pouquinho dessa felicidade? Ache o mais rápido possível o seu tonel com a chave do Diógenes!

Depois dessa, fui assistir o Barcelona jogar.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Concrecoisa Alho



A ancestralidade é sábia e indica o caminho da proteção do espírito por meio da natureza das plantas.

Certa feita, uma rainha, mãe de sabedoria afro, me disse para andar com um dente de alho macho junto ao corpo.

Não pestanejei. Coloquei em prática o conselho.

A força do alho começou a cortar a energia negativa de certo olho-de-secar-pimenteira. 

E as coisas nunca deixaram de dar certo. 

E o alho, ao receber a energia negativa, acabava ficando murchinho.

Desde então, a mania acabou sendo fortaleza. 

E o olho, com o alho, não me olhou mais. Olha, foi uma longa batalha.

Recentemente, li que comer dois dentes de alho por dia, junto à refeição e com uma colher de sopa de azeite doce extra virgem, é excelente para a saúde.

Coloquei em prática este ensinamento, que deve durar um mês.

O resultado tem sido excelente, pois, além de garantir a saúde física, o alho acabou sendo mais uma proteção espiritual.

Só não aconselho comer alho e andar dando beijo por aí. 

É cartão vermelho na certa.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Concrecoisa Derretido



A vida é um processo em processo que se torna memória.

Nem sempre as memórias sobrevivem.

Elas, as memórias, são inverdades quando viram escrituras.

A água também é vida, pois é um processo em si. É vida da molécula que derrete ao sol. Água não é vida animal, como nós, monstrinhos-racionais da natureza.
Depois de vira vapor, a água vira um nada em relação ao que era.

Tudo que escrevo para dar vitalidade à escritura da Concrecoisa Derretido parece não ter sentido. Talvez seja o interesse das próprias palavras derretidas em mim. Elas não quererem dar sentido ao racionalismo, ao processo físico do derreter da coisa humana.

Quem viu pela primeira vez esta concrecoisa, quando a tornava realidade, foi o parceiro musical Narlan Matos, que mora nos EUA e vive ensinando brasilidade aos gringos. Narlan é um poeta em ação, um intelectual que também enxerga o processo do processo do derretimento da memória e da água, ou melhor, da vida.

Antes que eu derreta com o calor de Salvador, vou deitar dentro de um freezer ou num congelador de uma geladeira antiga a gás, que me faz memorialista dum Brasil rural dos anos de 1970. 

Serei por uns instantes um picolé humano, que é melhor do que ser um nada.

E o sol, perigo para os viveres e sonhos por derreter, brilha para todos!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Concrecoisa K pro ar



Hoje, termino a trilogia sobre o riso.

Três instantes de muito kkkkk e hehehe.

Ontem, numa explosão de gargalhada, fiquei de papo pro ar vingando-me da dor que altivamente teima em atormentar muita gente.

É incrível! A dor em si tem inveja do riso, pois o riso é o homem em pleno estado de liberdade.

Nesse estágio elevadíssimo d’alma, na fronteira entre a realidade e a loucura, o botão de “foda-se” pede, sempre, para ser acionado, o que é natural.

Já apertei esse botão várias vezes. Quando me lembro desses instantes da vida, o riso vem feito chuva no sertão.

Termino com a letra da canção “De papo pro á”, de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano, inspiração incidental deste riso concrecoisado.

Não quero outra vida
Pescando no rio
De jereré
Tenho peixe bom...
Tem siri-patola
De dá com o pé

Quando no terreiro
Faz noite de luá
E vem a saudade
Me atormentá
Eu me vingo dela
Tocando viola
De papo pro á

Se compro na feira
Feijão rapadura
Pra que trabaiá
Eu gosto do rancho
O home não deve
Se amofiná