sexta-feira, 29 de junho de 2018

Concrecoisa Luz da noite



Luz e escuridão nasceram juntas.

No mesmo instante, mas a vaidade de uma foi de encontro à vaidade da outra.

O protagonismo do protagonismo criou cisão.

Para a escuridão, a vida começava com o olho fechado.

No entendimento da luz, tudo é clarão.

Sem querer tomar partido, a sombra escreveu um haikai autobiográfico com a poeira do infinito:

O escuro diz

A luz não deixa mentir

A sombra sabe

Quando o tempo leu, o passado daquele nascimento instantâneo foi apagado da memória do universo.

E a vaidade perdeu o sentido de ser.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Concrecoisa Outro dia



Tanajuras em voo.

Céu pintado de cinza.

Passos apressados na cidade.

Mas a chuva se escondeu nas nuvens dissipadas.

E o sol beijou o dia.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Concrecoisa Prisão



Nasceu livre de rótulos.

Viveu assim um bom tempo da vida.

Um dia aceitou ser rotulado de ...

Depois quis ser rotulado de ...

Mas ele era ..., desde sempre.

Era de fato alguém sem rótulos.

Quando quis ser o que era, já era tarde.

As outras possibilidades estavam aprisionadas dentro de si por causa dos rótulos.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Concrecoisa Nódoa da saudade



A saudade nasceu apaixonada.

Uma louca paixão que virou amor.

O tempo amplificou esse amor.

Certo dia o amor deixou de existir.

E a saudade disse ao tempo, olhando-se numa poça de lágrimas.

– A saudade é nódoa do amor.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Concrecoisa Sino



A cidade comprou um sino.

De hora em hora ele dava o ar de sua graça.

A cidade vivia em função do seu tocar.

O pulsar do badalo era a vida de cada morador.

Um dia, a revolução chegou.

A cidade chorou.

A chuva daquele dia também chorou.

Menos o sino, agora rebelde.

Condenado, virou silêncio sem fim.