quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Concrecoisa Silêncio

Psiu, pediu o padre na missa.

Psiu, pediu a professora aos alunos.

Psiu, pediu a atriz no teatro.

Psiu, pediu o maestro no começo da ópera.

Psiu...

Tem hora que é preciso fazer silêncio.

Nessa hora, o silêncio quer sussurrar.

Mas todos continuavam falando em vão, à toa.

Quando os ouvidos perceberam que a guerra estava perdida, uma bomba atômica explodiu.

Foi o psiu final.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Concrecoisa Busca do par

Um par é complemento...

E quando uma parte se perde da outra parte

O que era dupla se transforma em unidade

Desde então, a memória começa a vasculhar as inúmeras camadas da mente

E acaba em explosão de saudade

A bota velha e solitária desta concrecoisa foi fotografada numa rua de Salvador

Ela faz parte do descarte natural das coisas

Ela, imagino, também nunca esqueceu que tinha um par

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Concrecoisa Felicidade infinda

Maria teve cinco filhos.

Ela cuidou sozinha das crianças. O marido morreu cedo.

A comida era regrada, só com o básico.

A educação era sagrada e os livros didáticos reciclados.

As crianças cresceram, se formaram e ganharam o mundo.

Todos foram graduados em nível superior e passaram a ocupar um lugar de destaque na sociedade.

Quando Maria completou 90 anos, os filhos fizeram uma única pergunta na festa de aniversário.

– Mãe, por que a senhora nunca entrava em desespero quando o dinheiro terminava?

Ela respondeu, rindo:

– Porque eu sou felicidade e essa felicidade infinda faz sumir tudo que não faz bem. O desespero era a primeira coisa a sumir. 

E todos se abraçaram numa felicidade infinda, contagiando quem estava na festa e, agora, quem acabou de ler a concrecoisa.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Concrecoisa Bote da fé

O mar estava calmo.

A viagem seguia tranquila, segura e em paz.

Repentinamente, uma tempestade apontou no horizonte.

A calmaria virou caos.

A embarcação virou.

E naquelas águas turvas, turbulentas e mortais surgiu um bote.

A fé fez surgir aquela embarcação chamada de bote da fé.

Salvo, em terra firme, quem estava na embarcação escreveu na areia da praia para o mar lamber e o vento secar: “O bote da fé salva do naufrágio d’alma”.

E a tempestade se dissipou no horizonte, pedindo perdão.

Ela tinha "consciência" do que fizera. 

É da natureza da tempestade atormentar o momento de paz!

A fé riu de tudo.

E ficou mais forte do que era.