sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Concrecoisa Chão de Portugal IX


Ele acordou com um poema na cabeça que dizia:

em cada
passo
aprisionado
o tempo
escorrega
e sangra
em liberdade
no caminho

Ele dormiu com o poema na cabeça.

E acordou mais feliz do que antes.

No dia seguinte, ele acordou com outro poema na cabeça.

E acordou mais feliz do que antes.

E assim ele tocou a vida.

Sempre feliz.

Curtindo a liberdade ao longo do caminho.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Concrecoisa Chão de Portugal VIII


O passado estava na vida.

Menos nele.

Que negava a sua existência.

Ele gostava de viver o presente.

Na calçada, ele olhava para o amanhã.

E sorria ao dar cada passo.

E em cada caminhar, ele esquecia do fim.

Fim que é passado.

Fim que é presente.

Fim que é futuro.

E o único fim que ele não esquecia era a calçada.

Sua eternidade.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Chão de Portugal VII

Ele sofreu com a maldade do outro.
O seu coração ficou partido.
Porque ele jamais iria imaginar que o outro, alguém querido, fizesse tamanha maldade.
O tempo passou.
E aquele ferimento continuou sem cicatrizar no seu coração.
Um dia, ele perdoou o outro, aquele que lhe magoou.
E esse perdão aconteceu numa caminhada com os pés descalços por uma estrada espinhosa.
Foi ali, ao sentir o espinho sangrar a carne, que veio a cura da ferida do coração.
E uma voz vinda do chão lhe disse que “perdoar é sentir o beijo da sola do pé no caminho semeado de mágoa”.
Já velhinho, ele entendeu que "mesmo havendo obstáculo no caminho, a cura e o perdão estão no caminhar pela estrada que foi escolhida para sentir a vida".

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Concrecoisa Chão de Portugal VI

O círculo nasceu na hora da formação do universo.
Com a pedra também foi assim.
Tudo como um estalo, um boooom.
Com o aparecimento do homem, milhares de anos depois, o círculo e a pedra viraram construções e passeios, embalando o fervilhar da civilização.
As outras formas geométricas não precisaram ficar com ciúme. Elas também viraram construções, viraram passeios.
Num outro prisma, numa outra perspectiva, viraram um eco de esperança.
Aqui na concrecoisa, neste passeio com círculos, os passos circulam por entre as rotas de esperança.
Em tempos remotos, essa trilha era de barro.
Mas foi de passeio em passeio que o transitar do desejo fincou as suas raízes.
Com o transitar, as dores do mundo ficaram incrustadas nas pessoas.
Algumas pessoas conseguiram se afastar dessas dores. Outras não.
Aqui, como as pessoas são personificadas em círculos, o passeio então pôde dizer:
“Poucos são círculos para suportar as dores do mundo”.