Sempre tem sol
Sempre tem sal
Sempre tem ar
Sempre tem mar
Sempre tem dor
Sempre tem ardor
Sempre tem velho
Sempre tem vermelho
Sempre tem novo
Sempre tem de novo
Sempre tem Ano Novo
Sempre tem algo acontecendo
Concrecoisa é imagem, é palavra, é ideia, é filosofia, é ciência, é César Rasec, é qualquer coisa. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é a concrecoisa. rasec1963@gmail.com Direitos reservados e protegidos por lei. Uso de imagem e texto só com a autorização, por escrito, deste autor.
Sempre tem sol
Sempre tem sal
Sempre tem ar
Sempre tem mar
Sempre tem dor
Sempre tem ardor
Sempre tem velho
Sempre tem vermelho
Sempre tem novo
Sempre tem de novo
Sempre tem Ano Novo
Sempre tem algo acontecendo
Ela está solta.
Ela não dome.
Ela quer abraçar alguém.
Ela encontrou você.
E nunca mais vai lhe abandonar.
A felicidade agora é você!
O cantor de ópera encanta com a sua voz.
O escritor encanta com as suas narrativas.
A pintora encanta com a sua paleta de cores.
A natureza encanta com a beleza sem fim renovada a cada dia.
Porém surgiu o desencanto.
Que insiste em acabar com a união da preposição "em" com a palavra "canto".
Os ensinamentos estão camuflados, diante dos olhos.
Porém, a celeridade dos dias de hoje modifica o olhar, dificultando os aprendizados.
Ficamos cegos!
Assim, passamos a não ver o que poderia ser visto.
Perdemos coisas boas que estão camufladas.
E sempre estiveram pertinho de nós.
Já a coisa ruim, quase sempre, também por ter camuflagem, engana cada olhar ao fingir ser uma coisa boa.
Nunca é tarde para encontrar uma coisa boa camuflada no viver diário.
E também nunca é tarde para saber distinguir o que é bom e o que é ruim.
O poeta deixou a cidade para trás
E encontrou na zona rural o refúgio do amanhã
Os passarinhos celebraram a sua chegada
E ganharam alpiste
As plantas agradeceram pelo chão molhado
E a velha meia furada virou troféu
Todo dia.
Sem perceber.
Cada ser.
Que procura um sentido para a vida.
Tem a possibilidade.
De fazer o agora acontecer.
Nunca é tarde
Assim a chama da paixão continua ardendo.
Caminhou.
caminhou...
ca-mi-nhou...
ca-mi-nhou...
A caminhada foi longa.
Restaram espinhos nos pés.
Restaram muitos espinhos nos pés.
Alguém vai tirar os espinhos.
Ufa!
Até amanhã!
Nova caminhada e mais bondades pelo caminho, mesmo com os espinhos.
Calma...
Alguém vai tirar os seus espinhos.
A bandeira branca foi hasteada.
Sem guerra, o herói chorou.
Ele ficou órfão da adrenalina, dos disparos da metralhadora e das condecorações por matar vários inimigos.
As migalhas do passado foram comidas pelos morcegos.
O sono passou a ser o único remédio para curar o medo.
A frente de batalha, agora, era o clarão do dia.
Aquela pessoa falou em tom de saudade:
– Espere a chuva passar, entre.
Mas a pressa da vida com os compromissos sociais, com o trabalho, com o ter que dar satisfação e com a obediência às leis comandava o destino da outra pessoa, que respondeu também em tom de saudade:
– Lamento, tenho que partir, foram sete dias intensos.
E sem querer decidir o que a outra pessoa escolheu para si, retrucou baixinho:
– Adeus, foi tudo muito lindo!
Assim terminou o encontro apaixonado marcado pela chuva.
No fim da tarde, a chuva lavou o que estava escrito com carvão, no passeio, onde ocorreu o encontro.
E a saudade foi fixar residência nas memórias de outras pessoas.
Quando a sombra passou, aquele ser humano não estava vivo.
E as angústias que foram criadas nos muitos anos de vida acabaram derretendo como as asas de Ícaro.
E os milhões para garantir uma vida econômica tranquila serviram apenas para enriquecer o sistema de governo.
Quem sofreu com o destino daquela pessoa sem corpo, sem sentimento elevado, foi a última carne que recebeu pelo prazer oferecido.
E não era amor. Jamais!
Assim tudo passou…
Restou o ponto final na lápide de mármore.
E as flores de plástico aguardam as camadas de tinta spray para voltar a ter as cores vivas.
Perseverantes!
Aquelas pessoas nunca desistiram.
Os espinhos não foram suficientes para silenciar os passos.
Sempre, ao nascer do dia, o sol convidava para uma nova jornada.
E as flores celebravam o renascer.
A dura realidade que emoldura o envelhecimento marca o microconto desta semana.
A dor castiga!
Mesmo assim, o ser humano vem conseguindo viver por mais tempo com os avanços da medicina e da farmacologia.
A utopia da vida eterna, porém, sofre abalo quando as flores do adeus são lançadas sobre um caixão em mergulho no chão cavado.
E o que foi vivido adormece nos registros em livros, áudios e filmes e nas memórias dos que ficaram.
As flores murcharam…
E o tempo desfaz sem piedade o novelo de lã da vida.
Assim ele mostra que a vida é muito rápida, mesmo com tanta ciência.
O microconto publicado na concrecoisa desta sexta-feira, dia 10, foi escrito em 30 de abril de 2010.
Onze anos se passaram e tudo permanece atual, pulsante.
A imagem atua como moldura da narrativa.
Os elementos da narrativa estão nela.
Está tudo em sintonia e em harmonia.
O sol também está presente na imagem. É ele que vai nos levantar para enfrentar as adversidades da vida.
A vela da vida de cada um ainda tem muito para queimar!
A partir desta sexta-feira (03-09-2021), estarei publicando uma série intitulada Microconto.
Os microcontos foram escritos há algum tempo.
Encontrei-os por acaso arrumando uma caixa com vários papéis.
Este primeiro microconto que agora vira concrecoisa, no original, foi escrito em 13 de abril de 2010.
Era assim: “Venha Dora, a vida nos espera. O ar sopra, em amor, os filhos. Anos passados, as flores vestem o eterno descanso dos amantes já velhinhos”.
Para o tema ficar mais amplo e, sobretudo, aberto às viagens mentais de cada um, fiz ajustes na ficção que tinha que ter 140 toques, como era o padrão do Twitter.
Os microcontos foram pensados para serem publicados no Twitter.
Muitos dos microcontos se vestem de microaforismos.
É isso!
Viveu sem ar
Até nascer
Quando foi apresentado ao mundo
O ar doeu, ao beijar, os seus pulmões
Desde então
Tudo se resumiu em
Respirar
Expirar
Respirar
Expirar
Pois tudo virou ar
Um ar cataventado
E uma mostra que
Se é ar
É vivenciar
O caminho estava traçado desde o começo de tudo.
Todos seguiam felizes.
Alguém pegou uma outra rota.
Foi pelo descaminho.
Chegou num lugar desconhecido.
Viu que aquele lugar era bom.
Ficou ali por anos até caminhar pelo velho caminho.
E foi seguindo, seguindo...
Até chegar onde deveria ter chegado.
Viu que ali era pior do que o outro lugar.
Sentiu que o descaminho foi a sua alegria perdida.
Tudo é lixo
E o que não é
Um dia será.
Basta ver
A caminhada
Do mal
Na história
Da humanidade.
O lixo
Não se cansa
De ser produzido.
O sereno caiu
Molhou o chão
E aquela pessoa serena
Que assistiu
Em sossego
Celebrou
Porque o sereno
Encontrou para amar
Um ser sereno
E o sereno caiu novamente
Para nunca deixar de molhar
A esperança
Um pescador ficou sabendo dessa história numa mensagem do vento.
Ao deitar, pensou em ter um tiquinho desse mistério.
A ideia era guardar até o último dia de vida.
No dia seguinte, ele acordou bem cedinho e pegou uma gota d’água do mar encantado.
E guardou num vidrinho hermeticamente fechado.
Os anos passaram…
Todos os dias, antes de dormir, ele olhava para aquela gotinha e rezava.
Incrivelmente, o volume aumentava lentamente depois de cada oração.
Quando o vidrinho encheu, depois de muitos anos de reza e fé, ele sentiu o prazer jamais experimentado.
Então ele foi ao mar e devolveu aquela água multiplicada, uma gotinha do passado.
Nesse mesmo dia, ao deitar, sentiu a libertação d’alma.
O tiquinho do mar havia se transformado na sua vida eterna.
Aquela pessoa dizia que tinha coragem.
E que tudo era fácil.
Sobre o amor, achava algo simples, como trocar de roupa.
Certo dia, apareceu um desafio.
Encontrar a cara-metade e amar de verdade.
Então, a coragem que dizia ter foi embora.
E o amor foi vestir uma outra pessoa.
Aquela pessoa que achava tudo fácil já não tinha algo que é do amor verdadeiro, que é ter coragem indômita.
E o amor seguiu a sua jornada.
E continua a desafiar quem quer que seja.
Viver é tentar.
E quanto mais o ser humano tenta, mais tentativas vão pintando no seu horizonte.
Essa busca fica no mesmo lugar quando as tentativas deixam a vida passar.
Morreu tentando...
Debaixo de alguma coisa tem sempre uma outra coisa.
Tem grãos de areia debaixo de uma pedra.
Tem água debaixo da embarcação.
Tem carne debaixo da pele.
Tem loucura debaixo da mente.
Tem papel debaixo da letra impressa de um livro.
Tem rotina debaixo da rotina.
Tem poeira debaixo do ar.
Tem mistério debaixo de tudo que não foi explicado.
Tem sonho debaixo do sono.
E debaixo da vida eterna tem a dúvida.
O peso da dor rodeia e penetra nas pessoas.
Algumas não têm mais essa dor.
Outras carregam até a morte.
Perguntei para uma dessas pessoas que conseguiu se livrar:
– Como foi possível se libertar e viver feliz?
Ela me disse:
– Joguei no abismo.
– Onde estava o abismo?, perguntei novamente.
E a resposta foi precisa:
– Ele fica dentro de cada um e muitas vezes a pessoa não sabe que esse abismo existe.
Uma pedra procura um sorriso perdido num rio.
A água diz que tem.
A pedra pede uma prova.
A água prontamente atende.
E começa a lamber as suas faces.
As marcas do sorriso vão aparecendo.
Muitas delas são misteriosas.
– Quem descobrir um sorriso mistério numa pedra será feliz para sempre, diz a água.
Tá vendo?
Se não viu, não desista.
As pedras estão por todos os caminhos.
E a felicidade também!
– Eu tenho a verdade!
Foi o que falou uma pessoa para os seus seguidores.
– Eu também tenho a verdade!
Foi o que falou uma outra pessoa para os seus seguidores.
– Nós transmitimos a verdade!
Foi o que disse um apresentador de uma emissora de televisão.
– A verdade é transmitida por aqui!
Foi o que afirmou um apresentador de uma outra emissora de televisão.
– A lei é a verdade!
Foi o que escreveu um togado numa sentença.
– A mentira vira verdade quando a narrativa se veste de verdade.
Foi o que falou para um pai, cidadão comum, para os seus filhos. Ele disse em seguida que deseja apenas viver o mundo real e ser feliz.
Assim, cada um com a sua verdade construiu o império da narrativa com o que lhe convém.
Foi assim que a verdade foi desvirtuada e só era o que de fato significava num empoeirado dicionário do passado.
Choveu...
E algumas gotas se reuniram no vidro d’uma janela.
Outras foram chupadas pelo chão.
E teve as que caíram num córrego para depois abraçar o mar.
Ali no vidro, antes de evaporar, aquelas gotas da chuva começaram a conversar.
Em tom de confissão, falaram de suas angústias, dos momentos de alegria e sobre a esperança.
Muitas diziam que “evaporar é o mesmo que morrer para a vida eterna”.
As mais céticas diziam que “evaporar é o caminho para deixar de ser o que é e depois acabar em nada”.
Teve uma que falou do amor.
Chegou até a revelar que “estava apaixonada pelo calor”.
As que riram não sabiam que o fogo do amor é tudo que o ser humano precisa para viver feliz.
E quando o calor bateu, ela e-va-po-rou e foi morar nas nuvens, sempre rindo e sempre cantando.
O chão ficou marcado pela ferrugem, resultado da corrosão do prego de ferro em presença do oxigênio atmosférico e em meio úmido.
A marca é apenas uma consequência da oxidação.
Essa oxidação, na natureza, traz outras marcas.
Tudo por conta dos efeitos naturais da ação do tempo na vida e nos materiais.
Um sábio, certa feita, me falou que o vento gosta de tramar com o tempo em oxidação desconcertante.
Como prova material, mostrou um monte de barro que erodiu até virar poeira.
Depois disse que a luz e a água também entram na trama do tempo, sempre agindo com naturalidade numa outra forma de oxidação desconcertante.
Ele me fez ver que “a marca no chão mostra que o tempo castiga”.
Estou esperando o sábio voltar para saber mais sobre a oxidação da personalidade humana.
A marca indelével na história, não mais no chão, mostrará nas palavras ditas e não ditas quem são os canalhas, os traidores, os bandidos, os enganadores e os verdadeiros heróis.
A tela da TV mostra a trama.
Mostra a teia.
Mostra a textura.
Mostra tudo.
E mostra que treme quando falta a grana.
A tela-trama-teia-textura é pura mistificação das massas pela ideologia do seu dono.
E quando a grana chega, a tela se ajoelha, fica em silêncio e esquece tudo aquilo que mostrou.
Todo mundo é estrada
E a felicidade corre nela
Na pista
No acostamento
Até nos levar para algum lugar.
E no destino traçado pelo viver
Essa tal felicidade vai aumentando
Por retas e curvas
No asfalto liso
Nos buracos
Nos cascalhos
E na poeira levantada pelo destino.
E nas rotas marcadas por caminhos e descaminhos
A vida feliz só aumenta
Conforme o estradar que cada um escolheu.
A rua ficou deserta.
O vírus afugentou todo mundo.
E dentro das casas, ele agiu.
O vírus agiu e reagiu.
Ele sabe que agir é movimento.
E que movimento é um reagir constante.
Dentro dessa perspectiva, o filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso disse que “tudo flui, tudo é movimento”.
Numa outra projeção, agir e reagir apontam para o renascer.
E a rua, agora, não está mais deserta.
O mundo afugentou o vírus.
Fora das casas, a vida gritou.
A vida, na verdade, agiu e reagiu.
O movimento é a vida.
Aquela cidade fantasma “sentia frio”, ao ser “lavada” pelo vento polar.
Ela morreu quando nasceu um infiltrado.
Ele estava dentro de um ovo.
Falaram que era o ovo da serpente, mas não deram ouvidos às falas que ecoavam pelas ruas centrais.
O certo é que era, sim, um ovo diferente.
Dele, nasceu um infiltrado.
Ele chegou para combater o sistema.
Sua missão era contestar e destruir.
Com o tempo, outros ovos chocaram mais infiltrados.
A cidade trincou por causa das revoltas.
O sangue correu pelo asfalto.
O sistema resistia com a sua frieza e os seus cálculos precisos.
Porém, num dia, o infiltrado número um conseguiu acabar com a vida de todos.
Concluiu a sua missão.
Restou o cartaz que dizia:
“De um ovo nasce o infiltrado contra o sistema”.
E o vento frio sopra a poeira que restou da vida na cidade fantasma, uivando no silêncio da multidão!
Estava andando, aqui em Salvador, numa praça perto de minha residência, no bairro Itaigara.
Foi na semana passada.
O meu olhar estava ligado em tudo, como sempre.
E numa árvore, irradiando beleza camuflada, uma borboleta mostrou o seu encanto.
Parei, fotografei com o iPhone, e falei comigo mesmo: “Vai virar uma concrecoisa”.
E assim nasceu este tema.
“Estou aqui” é o grito que ecoa no tempo-agora.
É o grito para cada um perceber que ainda existe ao redor muita beleza, alegria, paz e prazer.
Tem um passarinho cantando para você, ele está aí. Viu?
Tem uma flor mostrando o colorido da vida. Percebeu?
Tem sempre um “estou aqui” para você parar, olhar, sentir e ser feliz!
A sedução carimba com o seu poder a pele, a carne, os ossos e a mente.
Sim, a sedução é uma tinta que vai carimbando a vida.
Tem gente que é sinônimo de sedução e carimba sem perceber.
São donos desse poder.
E as pessoas que não sabem seduzir acabam pisando os caminhos do amanhã com tapetes de espinhos.
As pétalas ficaram com os sedutores.
Em tudo tem sedução...
O calor seduziu o gelo.
E a água foi o presente que fez gerar a vida.
O vento seduziu a tempestade.
E o céu acabou ficando todo azul.
O sol seduziu a lua.
E a escuridão da noite ganhou luz.
O tempo seduziu o desconhecido.
E tudo que existe virou enigma da sedução.
Brigam pelo poder e para se dar bem.
Jogam com todas as forças, para o bem e para o mal.
Chutam bêbados desvalidos nas esquinas das cidades.
Jogam pedra em cachorro sem dono.
Enganam a todos com uma verborragia planejada.
Tudo acontece em sincronia.
E o choro do sofredor não incomoda, jamais incomodou.
Enquanto os outros choram, eles riem e atuam com mais ferocidade, sempre com os olhos voltados para o próprio umbigo.
Fico pasmo com as babaquices.
Fico pasmo com a hipocrisia.
Fico pasmo com a sede de poder.
Fico pasmo com a proliferação de canalhas.
Fico pasmo com a insensatez.
Fico pasmo com a desesperança.
Fico pasmo de tudo.
Desligo da realidade para ser feliz.
E deixar de pasmar.
Um homem cometeu suicídio aqui em Salvador, na manhã de 8 de abril de 2021.
Ele se jogou do Elevador Lacerda.
Desespero, meu Deus!
A tragédia circulou pelo Zap.
O tempo de agora é cruel.
Ele faz sangrar por dentro e por fora.
Tragédia num cartão postal da cidade da Baía de Todos os Santos.
A vida não suportou o desespero.
O ocorrido mostrou as vísceras do tempo de agora.
O tempo expõe as vísceras de tudo.
Só resta suturar a pele, a carne exposta, as vísceras.
E esperar a cicatrização que vem com amor e fé.
O desespero não pode matar a esperança, não pode, não pode...
A idade foi avançando.
Tristezas e alegrias ficaram ao longo do caminho do viver.
E sempre passava água com sabão para lavar a dor.
A idade continuava avançando.
A dor que não saia acabou virando nódoa.
Não foi problema.
Continuou lavando, agora com detergente de esquecimento.
De tanto lavar as vivências com água, sabão e detergente de esquecimento, limpou o sofrimento, a angústia e as mazelas da vida.
Quando deu por si, viu que o tempo foi quem lavou a nódoa da vida.
E a verdadeira felicidade havia chegado.
A vaidade vai...
A vaidade vai...
A vaidade vai...
A vaidade vai...
...escravizando o homem,
...escravizando o homem,
...escravizando o homem,
...escravizando o homem,
que perde a humildade.
que perde a humildade.
que perde a humildade
que perde a humildade.
Uma alma limpa
Caiu na lama
Sujou tudo em volta
Depois tomou banho
Voltou a ser o que era
E purificou o que tinha sujado.
Uma alma suja
Caiu na purificação
Limpou tudo em volta
Voltou a ser o que era
E sujou o que tinha purificado.
Todas as possibilidades são trocadas na alma que é lama e na lama que é alma.
Mundo doente,
e o fogo molha.
Mundo louco,
e a água natural queima.
Mundo doente,
e o lacre abre.
Mundo louco,
todas as cartas estão embaralhadas.
Mundo doente,
a rebordosa vem chegando...
A saudade bateu.
Parece que foi ontem.
A saudade bateu.
Foi há poucos anos, salvo engano.
A saudade bateu.
Parece que muitas coisas boas ficaram no passado.
A saudade bateu.
Os tempos idos foram sensacionais!
A saudade bateu.
Se o passado voltasse...
A saudade bateu.
Os novos tempos querem reinventar o saudosismo no presente.
A saudade bateu.
O manto da saudade desfila na avenida da vida.
Todos são poetas Uns escrevem versos Outros vivem Os que brincam com as palavras rabiscam, talvez cada dia, um verso do poema do adeus Os que brincam com o viver a vida em si fazem o poema da lembrança É o adeus que se aproxima O verso é cada segundo, cada minuto, cada hora, cada dia… O poema é a vida E o poeta é o herói que resistiu Que chorou e que sorriu O verso do adeus não atormenta quem galopa na esperança de respirar amanhã
Os sinais estão espalhados
Uma cruz qualquer é um desses sinais
Cada um carrega a sua
Ali no chão tem cruzes espalhadas nos espaços deixados pelas pedras assentadas
Basta olhar com atenção
Enquadrar o desejado
Tudo está dando sinais
Tudo está no encalço
As marcas não escondem
O medo foge
Encalço não é o fim
Com precisão e elegância do único número primo par, o número 2, Caetano Veloso disse num verso de canção que “gente é pra brilhar”.
E completou em seguida: “Não pra morrer de fome”.
A canção integra o LP Bicho, de 1977.
Os versos continuam ecoando com mais densidade nos dias de hoje. Tempos complicados, em ebulição.
Esses versos ecoam espelhados ao doce mistério da vida.
Gente é uma força transformadora do mundo, para o bem e para o mal.
É por isso que eu digo na concrecoisa que…
Gente é ostra.
Gente é mosca.
Gente é mariposa.
Gente é escorpião.
Gente é andorinha.
Gente é placebo.
Tudo cabe nesse mundo chamado gente!
Todos os dias
Um pedaço se vai
É a perda de si em fragmento
Um por um
Sem alarde
Eles começam a povoar o imaginário
E as zonas abissais dos relacionamentos
Pedaços espalhados no vazio, na dor, no desespero, na esperança, no nada
Um dia os pedaços vão se juntar
Ou apenas um
E quem achar
Esse pedacinho de si
Terá reencontrado a alegria interior
E o pedaço maior vai dizer
É a vida!
É a vida!
Psiu, pediu o padre na missa.
Psiu, pediu a professora aos alunos.
Psiu, pediu a atriz no teatro.
Psiu, pediu o maestro no começo da ópera.
Psiu...
Tem hora que é preciso fazer silêncio.
Nessa hora, o silêncio quer sussurrar.
Mas todos continuavam falando em vão, à toa.
Quando os ouvidos perceberam que a guerra estava perdida, uma bomba atômica explodiu.
Foi o psiu final.
Um par é complemento...
E quando uma parte se perde da outra parte
O que era dupla se transforma em unidade
Desde então, a memória começa a vasculhar as inúmeras camadas da mente
E acaba em explosão de saudade
A bota velha e solitária desta concrecoisa foi fotografada numa rua de Salvador
Ela faz parte do descarte natural das coisas
Ela, imagino, também nunca esqueceu que tinha um par