sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Concrecoisa Desencadeado



Vivia feliz numa caverna.

O fogo imitava o sol.

Não era louco.

A caverna simulava o mundo.

Certo dia, resolveu conhecer o que tinha do lado de fora.

A primeira coisa que encontrou foi um cadeado aberto.

Voltou para a caverna.

Chorou...

Estava desencadeado para o resto da vida.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Concrecoisa Sabedores



Ela nunca amou ninguém.

Foram muitos desejos que passaram por sua sombra.

Ela só queria viver o momento do encontro com o outro.

Quando confessou para si mesma que não amava ninguém porque entendia que o amor encarcerava a liberdade, sentiu que a pontinha do amor queria semear o seu destino.

O corpo estremeceu.

Combateu o desejo de amar migrando para o deserto.

Sozinha, semeou a liberdade com a alma do amor, que é a liberdade de se entregar ao outro.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Concrecoisa Começo, letra “E”



Para existir, tem que nascer.

Para escrever, tem que conhecer as palavras.

Para entender, tem que usar o cérebro.

Para evitar, tem que ter prudência.

Para esquecer, tem que perdoar.

Assim a letra “E” começa uma palavra e faz história.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Concrecoisa Papel de cada um



Ele amassou aquele pedaço de papel.

Com versos sobre a dor.

Depois jogou fora.

Fez isso porque a mistificação da dor.

Pelo verso descartado.

Era o que alimentava a vontade de viver.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Concrecoisa Cheiro da saudade



Ele voltou à cidade natal para colher a poeira do tempo vivido.

Num dos bancos da praça onde costumava se reunir com os amigos, leu um poema escrito com um prego, assinado com as iniciais ACSS, que dizia:

“O cheiro traz saudade

De quando eu era criança

O café torrado num tacho

O tempo perdido, lembrança

Tudo aquilo que eu fui

No prazer de cada aroma

O cheiro da terra molhada

Da chuva com sua esperança

E o cheiro de tudo que fica

Guarda a memória sem fim

O passado volta em mim

Na delícia de cada cheirinho

Única saudade que embala

A vivência de cada um

Somos voo de passarinho

Cheiro, saudade, jardim”

Depois do último verso, seus olhos marejaram.

Em seguida, uma explosão de alegria tomou conta daquele momento especial.

E o cheiro da vida semeado pela saudade d’alma ficou impregnado naquela carne marcada pelo tempo.

A poeira continuava suspensa no ar.