sexta-feira, 30 de maio de 2014

Concrecoisa Choro



O choro é o começo de tudo.

É também o fim.

Ao nascer, choramos.

Ao morrer, os outros choram.

São choros e mais choros que águam a vida.

São choros e mais choros que lavam as faces.

E este choro.

Este choro que vem do céu.

É a chuva.

A chuva que é o choro da vida.

E no deserto, sem chuva, o choro lamenta a falta de vida.

Um dia o choro será o riso. 

E a chuva a ressurreição.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Concrecoisa Escorregão



Cuidado!
Cuidado!
Cuidado!

A vida escorrega sem avisar.
A vida escorrega quando menos esperamos.
A vida es-cor-re-ga no porvir.

Cuidado!
Cuidado!
Cuidado!

Uma casca de banana...
Uma casca de banana no caminho...
Uma casca de banana, no escorregão da vida.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Concrecoisa Soluços



Na piscina vazia, deitado, sozinho, meditava.

Pensou na família que não mais existia.

Lembrou dos amigos, agora cinzas ao vento.

Quis recordar alguns versos, poemas que o tempo empoeirou. 

Não encontrou nenhuma palavra poetizada na velha memória.

Estava lúcido do momento e só.

Aos poucos, gemidos nasciam do nada: vulcão na carne corroída pelo tempo.

Quando deu por si, viu-se boiando n’água de lágrima germinada durante os longos soluços.

E só, esperou a hora final chegar.

Não restou tempo para mais nada, nem uma réstia da festa do porvir, em dezembro.

Só, adormeceu para sempre.

Ezequiel virou espírito.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Concrecoisa Gostar



Ele não tinha nada.

Vivia num barril.

Nada de roupas.

Livre de tudo.

Livre do consumo industrial.

Livre da internet.

Livre da informatização.

Livre da televisão.

Livre das obrigações burocráticas.

Ele na verdade tinha tudo.

Tinha o amor dentro de si.

Tinha o gostar nas veias, que pulsava mais que demais.

Ele gostava da vida.

Gostava da liberdade.

Era o mais feliz dos humanos.

Gostar era tudo para ele.

O resto não importava.

Ele um dia se revelou.

Ele era o poeta adormecido dentro de cada um.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Concrecoisa Idas e Vindas



Mais um dia de solidão.

José resolveu ir para a cidade grande. 

Ele queria viver irmanado com a multidão.

Foi parar em Nova Iorque.

Muita gente não faltava ao seu lado, em ruas amontoadas.

Lá, esqueceu as suas origens.

Certo dia, resolveu voltar. 

Foram 50 anos em terras estrangeiras.

Sentiu a solidão novamente.

José já não era o que era.

Não devia ter voltado.