sexta-feira, 29 de julho de 2016

Concrecoisa Tristeza


Numa caverna, no ritual do fogo, a tribo sentiu a falta de Mug.

Mug era um jovem que semeava sorriso.

Morreu caçando, solitário.

Ele era diferente de todos daquela tribo, pois sabia dominar a tristeza.

O sorriso de Mug foi pintado na entrada daquela caverna perdida na Mata Atlântica.

A partir deste dia, em mais um ritual do fogo, todos ficaram sabendo que a tristeza um dia já sorriu.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Concrecoisa Pedra

Encontro por acaso uma pedra no caminho.

Não é a pedra do poema de Carlos Drummond de Andrade.

É a pedra do poema da vida.

É a pedra chamada gente.

Uma pedra dura, rude, inflexível, insana, ideologizada, corrupta, bandida, antiética e multiplicada nas massas humanas.

A pedra que é gente morre em pedra, na lápide empoeirada.

Tem gente que é pedra.

Tem pedra que é gente.

Pedra e gente se misturam na coisa misteriosa da mente. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Concrecoisa Fundo do poço


Cena um: mais um dia de trabalho e o recomeço da agradável rotina.

Cena dois: o susto de um assalto.

Cena três: a desesperança.

Cena quatro: as sequelas psicológicas, a queixa na delegacia e a emissão do boletim de ocorrência.

Cena cinco: nos dias seguintes, a perda de tempo para retirar a segunda via dos documentos que foram roubados.

Cena seis: pausa para a reflexão.

Cena sete: a conclusão que a bandidagem tomou conta da rua, e essa rua é minha, é sua, é nua e é crua. E o resultando é um triste Brasil, um barril social.

Todas as cenas fazem parte de uma realidade.

Sou testemunha.

Vejo que o Brasil está perto do fundo poço, se é que não chegou lá.

Essa é a nossa triste realidade.

Termino agradecendo a Deus, aos santos protetores e aos Orixás por estar vivo, fazendo a concrecoisa também viver!

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Concrecoisa Eliminar


Era primavera.

Os conspiradores estavam reunidos na Praça da Paz.

O mais novo integrante da Frente de Transformação Social queria se infiltrar na célula central do comando que estava no poder.

Sua intenção era passar as informações para o núcleo pensante da Frente de Transformação Social.

O seu líder, um conservador ligado aos países não alinhados, não concordou com a proposta, pois queria a infiltração de um miliciano mais experiente.

O jovem, então, passou a conspirar contra os pares, atuando como agente duplo.

Na verdade, o jovem queria ocupar o lugar do líder conservador e impor as suas ideias.

Depois de um ano, na primavera seguinte, o jovem foi convidado para participar de uma ação juntamente com o seu líder.

Em reunião secreta, o jovem disse que o futuro da Frente de Transformação Social estava em perigo.

O líder não deu ouvidos e desconstruiu o discurso inflamado de seu pupilo.

Dois dias depois, no apartamento onde estavam reunidos, o jovem preparou café com cicuta e ofereceu ao chefe.

No dia seguinte, o jovem foi informado que o chefe estava morto e que tinha deixada uma carta que era para ser lida quando chegasse esse dia.

A carta foi lida em voz alta pelo sucessor imediato.

No final da carta, o líder confessou que não queria que o jovem atuasse em missões perigosas porque ele era seu filho, fruto de um relacionamento com uma companheira que vivia na clandestinidade.

O jovem ficou paralisado.

Em choro, bebeu o último gole do café que tinha oferecido ao líder morto. 

E foram enterrados juntos.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Concrecoisa Eutu


O eu está dentro.

O eu está fora.

O eu é ímpar.

O eu é par.

O eu é único.

O eu é múltiplo.

O eutu é isso tudo.