quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Concrecoisa Descaçador


O caçador que poupa a presa

descobre que a mira da sua arma

já não dispara morte, 

mas amor.

E nesse instante, 

deixa de ser caçador 

para tornar-se descaçador, 

aquele que caça apenas

o silêncio da paz.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Concrecoisa Cinza tirânica


Reinar na cinza 

é reinar sobre nada: 

um poder que se consome

 na própria chama, 

até que o trono vire pó

 e o soberano seja apenas 

a lembrança 

de sua própria ruína.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Concrecoisa Papel picado


O povo é como papel picado: 

lançado ao alto para enfeitar a festa do poder, 

brilha por um instante, 

mas logo cai ao chão, 

esquecido, 

varrido 

e disperso pelo vento

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Concrecoisa Sal da idade


O tempo tempera a vida,

com cristais que não se desfazem.

Na boca da memória, o sabor persiste,

é o sal da idade que arde suave,

e se chama saudade.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Concrecoisa Con$umo do con$umo

O consumo se consome.

O desejo se alimenta de si.

No espelho da abundância, a escassez sorri.

Objetos tornam-se donos de quem os compra.

O homem, reduzido a mercadoria, perde-se.

Assim, a humanidade se vende para se destruir.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Concrecoisa Pesadelos


Sonhos repousavam em silêncio.

Vieram os tiranos e acenderam as luzes.

Chamaram de clareza o que era invasão.

A calma virou ruído, o abrigo, aflição.

O que era promessa tornou-se vigília.

E a luz transformou sonho em pesadelo.

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Concrecoisa Momentos da realidade


A realidade 

nunca se detém;

ela se move

no brilho do sucesso

e na sombra do fracasso,

moldando cada instante

com a mesma intensidade

silenciosa.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Concrecoisa Essencial


A felicidade 
não está no excesso, 
mas na medida exata 
do que é essencial.

Quem precisa 
de tudo, 
vive em falta.

Quem reconhece
 o bastante, 
transborda.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Concrecoisa Irraciolizados


Fomos irracionais, guiados pelo instinto e pela necessidade de sobreviver.

Tornamo-nos civilizados ao criar a razão, as leis e a palavra como instrumentos de ordem.

Elevamo-nos com a arte e o pensamento.

Agora mergulhamos num tempo de ruído e de intolerância.

Caminhamos na estrada dos irraciolizados, por ignorância e escolha.

E o que era avanço torna-se ruína travestida de progresso.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Concrecoisa Vento, nuvem, tempo


O vento que vem, a nuvem que acena e o tempo que assiste formam uma tríade de movimento, despedida e contemplação. 

Cada verso sugere a impermanência da vida e a delicadeza dos instantes que passam sem alarde. 

O vento não fica, a nuvem não permanece, mas o tempo – silencioso – tudo observa. 

É uma metáfora da existência: somos como nuvens que acenam ao mundo enquanto o tempo nos contempla, impassível. 

A concrecoisa convida à pausa, ao olhar sensível sobre o agora. 

Tudo passa, mas algo em nós também assiste.