sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Concrecoisa Legitimar



O poeta Dumé vivia feliz no anonimato.

Seus poemas eram dos mais belos. 

Lírica das líricas modernas em explosão de sentimento.

Do mundo material, a rua era o seu palácio, a sua morada.

Um dia perguntaram quantos livros ele tinha publicado.

Ele disse que nenhum e falou ainda que guardava os poemas na cabeça, todos decorados.

Outra pessoa perguntou, certa feita, se algum de seus poemas chegou a ser declamado por outra pessoa ou se já tinha sido estudado ou virado canção.

Ele disse que não e que a alegria era o anonimato, não fazendo questão de notoriedade, pois era poeta, nada mais do que poeta.

O tempo passou...

Certa dia, viu o seu nome estampado num jornal de grande circulação nacional.

Achou engraçado.

A manchete era “Poeta Dumé é legitimado”.

Depois de ler quase cem vezes a manchete, se embolou numa crise de riso no chão sujo de sua casa pública: um viaduto.

Desde então, Dumé considerou qualquer tipo de legitimação uma piada.

Descontente, foi morar sozinho, imensamente feliz, numa gruta em Igatu.

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