Siriel
era medroso, desde pequenino.
Velhinho,
contava rindo pelos cotovelos que tinha até medo do medo.
E
foi escavando as narrativas soterradas nas camadas da memória de mais de nove
décadas que ele acabou ficando sem medo.
E
dizia bem alto, gozando com a cara dos outros...
–
Zulina era da rua e tinha medo da rua.
–
O policial Miridó corria do ladrão, tudo por causa do medo de tomar um balaço na
fuça.
–
A violência deixou Bitutu com medo multiplicado.
–
O padre Lionilton tinha medo do falso cristão.
–
Pertonino, que morava em situação de rua, fugiu para o mato, isso porque ficou
com medo da cidade grande.
–
Jupinaraci, a decana do bordel mais visitado da cidade, tinha medo de amar o
cliente.
–
Zé do Canhão, especialista em armamento, tinha medo de estourar uma guerra civil
no Brasil.
–
O cauteloso Galitanizo tinha medo de arriscar na vida.
–
Viciado em analgésico, o médico Diritanoel acabou morrendo de dor.
Para
Siriel, o medo de sofrer era o despertador para estancar o medo em si.
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