sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Concrecoisa União


A rua que ama o passeio

É chão que ama o passo

E o passo apressado

Passeia no espaço

E o resultado de tanto passo

Na rua

No passeio

No chão do espaço

É o enlaço

Da rua com o passeio

Na vida de cada passo

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Concrecoisa Corredor


O corredor era escuro.

Era frio.

Tinha espinhos.

E ecoava um som estranho.

Um som metálico que mandava correr.

Correr...

Correr...

Correr da dor.

Correr com dor.

Correr da dor.

Corredor...

Corredor...

Com dor.

Com dor.

Com dor.

Com dor.

Morreu!

Morreu no corredor da dor.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Concrecoisa Dentrofora


A carne está por dentro.

A pele está por fora.

O osso está por dentro.

A carne está por fora.

A fome está por dentro.

A comida está por fora.

A dor está por dentro.

O sorriso está por fora.

A vida está por dentro.

A morte está por fora.

A morte está por dentro.

A vida está por fora.

A concrecoisa está por dentro.

A outra coisa está por fora.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Concrecoisa Já Está


O ministro do governo totalitário chegou com uma ordem superior.

Em transmissão nacional pelas ondas de rádio, via TV aberta e fechada, internet e veículos impressos, disse para o povo.

– O mundo agora é quadrado!

No outro dia, na aula de geografia, a professora perguntou:

– O mundo é redondo?

A turma gritou numa só voz.

– Nããããããããããão.

– E como ele é?

– É quadrado!

Triste, a professora aprovou todos os alunos com nota 10.

Os tempos passaram...

Certo dia, um aluno cochichou no ouvido da professora em leito de morte.

– Professora, o mundo é redondo.

A professora sorriu e balbuciou.

– Quando já está, resolvido é.

O aluno entendeu o recado, fez a revolução, assumiu o poder e no dia seguinte mandou o ministro afirmar que o mundo era triangular.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Concrecoisa Leão

Um dentista americano matou o leão Cecil, ícone no Zimbábue.

Essa brutalidade ainda corta o meu coração.

As minhas lágrimas caem.

E um pedido nasce com a concrecoisa.

– Chega de matança de indefesos animais na África e no resto do planeta!

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Concrecoisa Luzberdade

A luz estava aprisionada na escada do Louvre.

Na pedra polida da civilização.

Um dia, após saber da revolução astral, a luz solitária quis se libertar.

E a pedra, para não viver sozinha, ofereceu o seu coração vazio, espaço oco da matéria.

A luz, então, se dividiu em duas partes e promoveu uma nova revolução na França.

A liberdade passou a ser luzberdade!

E o iluminismo ficou mais clarificado.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Concrecoisa Dor


O amor foi embora.

João ficou só.

Restou-lhe a dor.

A dor da perda.

Certo dia a dor virou remédio.

Um remédio de dentro de João.

E o amor chegou.

João, agora, não está só.

Sem dor, a cura renasceu.

Pois a cura estava em João.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Concrecoisa Nova Hera


A transformação estava para chegar.

O sonho renasceu nos lírios fantasiados na luz do sol de Dionísio.

As décadas de 60 e 70 do século passado não tinham passado.

Ele não morreu...

Tudo continuava como antes.

O corpo ainda mantinha o movimento para dançar.

A contracultura permaneceu nele.

Ele era um ser solitário, sem sê-lo.

Mesmo com o mundo girando no dorso do capital, a liberdade foi seu capital, negando-o.

Ele conseguiu sobreviver.

E a Nova Era se avizinhou mais uma vez.

E a Era de Aquários derramou a água da Nova Era.

Ele, feliz, plantou a nova hera num muro.

E o muro enverdeceu o cinza do terror.

O sonho não morreu...

A nova hera é a realidade que o sonho plantou.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Concrecoisa Pele


A pele do escritor é o texto.

A pele da parede é a casca.

A pele do ser é a vida.

A poeira é uma pele da corrosão do tempo.

A página em branco é a pele do silêncio, do vazio.

Tudo é pele, tudo é pele, tudo é pele...

A tinta é pele, quando se fixa.

E todas as peles não passam de aparências.

Pois todas as peles são iguais.

Porque a pele é humana.

(Para Marivaldo Filho, o Maru).

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Concrecoisa Tempo do tempo


Tem gente que deseja que o tempo passe logo.

Quem faz isso pede sem consciência para a vida encurtar com rapidez.

O sábio deixa o tempo chegar no tempo certo de chegar.

E das muitas coisas que o tempo me ensinou.

Posso dizer que ler a concrecoisa é fazer bom uso do tempo.

Digo também que fazer a concrecoisa é o meu bom uso tempo.

A troca desses tempos é um caminho da felicidade.

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Você é coisa fechada.

E eu deixo a vida fluir em si.